A volta

Quero expressar-me como antes, a leveza que as palavras iam surgindo e aos poucos modelando meus textos, sem o mínimo esforço, minha imaginação fluía livremente. O que foi que aconteceu? Será que não me permito mais sonhar? Não conseguiria cogitar a idéia de tudo ter se transformado em técnica.
Devo explodir as grades dessa prisão onde fora submetidas minhas fantasias. Como uma francês pensa, concordo, são tempos difíceis para os sonhadores, mas a dificuldade não deveria me influenciar a não sonhar. A sutil criação é o que salva minha alma astuciosa, não necessito tirar meu pés do chão ou fechar meus olhos para a realidade para poder sonhar e, sim, consegui ver através daquilo que se enxerga.
Voltar é sentir todos seus sentimentos e emoções que foram trancafiados dentro de meu peito, os libertarei e lidarei com o que mudou.
Visivelmente dói -escrever- mas no fundo da racionalidade sei que essa dor só se baseia no medo, porque escrever é a forma mais nua que uma pessoa pode se encontrar.

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Poderia ficar aqui reclamando da vida e o tamanho da minha infelicidade, seja lá como se chama esse estado vicioso de repugnância ao sentimento de vazio, mas logo te entediaria. Não ria e pare de dizer que quer ouvir estas narrativas que já ouvistes tantas vezes em dias carregados e por tantas vezes já enjoara. Você me ouve só pra me agradar, não negue, você está sempre fazendo isso, sempre tão gentil e eu sempre tão chata, reclamando de tudo e todos, sempre foi só reclamação que ouviste? Estou rindo de sua mentira, mas deixe pra lá, apague esse cigarro, já falei para você parar de fumar, ainda mais perto de mim, não, não é vontade, um pouco, mas você sabe minha riniti impede esse malefício... me acolhe como antes? Deixe-me sentir teu cheiro e calor, me abafa em seu corpo, me passa aquela segurança boba que costumávamos sentir sem o mínimo de esforço, sabe, esta sendo difíceis os dias, sinto falta desses gestos e com a falta deles tenho medo de criar aquela armadura fria que você tanto criticou. Quanto tempo se passou desde que ficávamos aqui nesse mesmo lugar apenas nós dois olhando os formatos das nuvens? Oito meses ou nove anos? Não faz muito tempo, você ainda é meu animal lindo de estimação, mas foi tempo suficiente pra trazer carência... Baby tem me faltado tudo (tudo no que difere a saúde, condições econômicas estáveis e o afeto do lar), me falta você, me falta ela, me falta eles, mais ela do que eles. Não, não me olhe com esse seu olhar de interrogação, esse com a cabeça tombada pro lado, e nem me olha nos olhos assim, me sinto visível demais a ti, continue apenas me abraçando,há tanto tempo que não sinto este calor... só preciso do necessário, para suportar mais uma semana, porque só Ele sabe quando vamos nos ver de novo. Eu queria que os outros entendessem meu silencio e meus sorrisos, assim como ti, para me poupar do fardo de explicar o tempo todo porque estou assim. Eles não entendem que as pessoas caladas têm os pensamentos tumultuosos demais e merecem serem abrigadas em lugares profundos/ seguros ou jamais entenderão sua importância perante aqueles que eles querem bem.
Claro que penso em te ligar, que pergunta ridícula, e olha que são todos os dias, se não ligo é pra não cansar-te ao meu respeito, e como todos os dias eu só penso em você, e me sobe pelo esôfago uma ânsia solidaria ao meu sentimento de solidão e é o que tem me preenchido, além de náuseas e formação de lágrimas ao imaginar o meu esquecimento diante de ti, nada apelativo à pena, nem meu ultimo desejo seria essa compaixão. Você tem sido meu porto há tanto tempo que o mínimo que posso te dar em troca é minha lealdade, alias, você sempre a teve, desde na infância quando você me carregava às suas aulas de violão até hoje você ainda me carrega as mesmas aulas, me pergunto se você nunca vai aprender a tocar "isso". Até eu já devo ter apreendido alguma coisa, sim, sim, é engraçado. Não fala pra parar-me de rir, faz tempo que não riu desse jeito, e você também ri, amo o som de sua risada tosca. Ah, que vontade de fazer o tempo engatiar igual na musica só para continuar enrolando meus dedos nesse seu cabelo escuro por mais algumas horas, não é nostalgia o que sinto quando to com você, animal, é paz, simples assim.

E quando você quer que fique para sempre e tem que ir embora, lhe passa aquele desespero, aquela vontade de pedir pra ficar, só mais um pouco, só por mais uma vez, de novo, pela ultimas vez, só um novo agora.

Estou deitada no sofá com os olhos ardendo de sono, o impulso de escrever não permite que eu vá dormir, mas meus olhos ardem, ardem porque tive uma boa noite –dormindo- lembro até que sonhei, sim, lembro-me do sonho, nada relevante para ser lembrado ou mencionado, mas de fato foi um sonho. Não gosto de sonhos, já sonho muito acordada - o que é bem pior de quando está dormindo- mas gosto de dormir, só dormir, apagar, gosto até demais. Tanto que hoje acordei atrasada, não porque tava gostando do sonho, pelo contrario, sentia que não tinha descansado ou só a desculpa dos cinco minutinhos, mas os cinco viraram doze, o que na minha rotina não muda porra nenhuma, doze minutos ou doze horas já não fazem diferença alguma. Tirando o fato que perderia a aula, mas estando lá perco-a do mesmo jeito, mas eu perco muitas coisas. Veja, perdi em um dia cinquenta centavos, as chaves do carro, o caminho de casa, a carteira, minha identidade e o coração. E você ainda me pergunta por que não reclamo das pedras no caminho, entenda, achar elas já é alguma coisa.

"Mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ele pára e pede, preciso tanto, tanto, tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era".
-Caio F. Abreu

Se distante pensa que estou
Não se engane
Aqui, perto, permaneço
Só tentando lidar com essa situação.